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Pélmio S. Carvalho
(Caveant consules ne quid res publica detriment capiat)
Ernesto Sena, em seu Deodoro, mostra-nos o nosso primeiro Presidente da República (1889-91) e seu proclamador, mas não arquiteto, como um militar bonachão, responsável e ... monarquista. O general manifestava grande repulsa aos oportunistas, aduladores e lobistas e grande amor aos irmãos sobreviventes – eram 7: 3 mortos e 2 feridos na Guerra do Paraguai – e aos sobrinhos, vez que não tivera filhos. Deles, o mais célebre e bem sucedido, foi Hermes da Fonseca, que foi Presidente da República (1910-1914) e morreu marechal do Exército. Dizia Deodoro: “Quando Deus não nos dá filhos, o diabo manda-nos sobrinhos” e sobre os oportunistas, sentenciou: “sou republicano de 15 de novembro e meu “irmão” Hermes o é de 17". Quanto aos aduladores, parentes e amigos que o assediavam a procura de “despachos e favores”, tornou-se célebre a sua esquivança, quando dele, mais uma vez, aproximava-se o parente e engenheiro, nos jardins do Itamarati, então sede do governo, em busca da autorização para construção de uma estrada de ferro. Pressentindo a aproximação do afilhado, Deodoro elevou a voz para seu companheiro e interlocutor, mudando totalmente de conversa: “...Não nomearei mais nenhum coronel de Exército... e quanto a estrada de ferro só darei concessão para aquela que, partindo do inferno, for dar na casa de quem má pediu”.
A divagação, a guisa de prolegômenos e prolepse, vem a propósito da volta à baila, a discussão da necessidade de instalação dos chamados semáforos em diversos cruzamentos viários da cidade e como panacéia para todos os problemas mais graves de nosso trânsito. Bastou que a TV-Viçosa voltasse a focalizar as questões do trânsito, com as autoridades municipais, na última quinta-feira, 11/04, para que a engenhoca colorida dominasse a discussão à tripa-forra.
Parece-nos que há alguém bastante loquaz e capaz de formar opinião e interessado na aprovação da instalação de semáforos em nossa cidade. A idéia, das mais estapafúrdias, de tempo em tempo e à socapa, volta sempre a consideração de pessoas, sempre, sem nenhuma qualificação para opinar sobre questões de trânsito e tráfego. Mas, todas as vezes que as autoridades municipais buscam pareceres com engenheiros de tráfego e urbanistas, a parafernália é repudiada de pronto e seguida de argumento e arrazoados concretos. Dois deles, para ilustração: A cidade, com mais de 14 mil veículos e com o tráfego concentrado em 2 ou 3 horários, de entrada e saída da Universidade, viraria o caos, com 2 ou 3 sinaleiros. Um semáforo na intercessão da P. H. Rolfs com a Castello Branco interromperia o tráfego da avenida até o ginásio da UFV e por horas e não minutos. Outro: a engenhoca custa caro e é de difícil e especializada manutenção.
Pergunta-se: Há alguém muito interessado nesta ferrovia? Digo, engenhoca?
Melhor seria se nossas autoridades do trânsito, as policiais e da Secretaria Municipal de Trânsito, parassem de fazer média com o público e eleitores, qualificando-os como os mais cultos, ordeiros e civilizados, e partissem para a repressão de fato e moderada. Bom que a PMV se esquecesse das receitas das taxas referentes aos Alvarás de Localização e Funcionamento, antes de autorizar a instalação de grande casa de material de construção, inclusive areia, brita e caminhões, como fez para o cruzamento da avenida Castello Branco com a José Medina Floresta. E, também, uma Auto Escola, com seus diversos veículos estacionados irregularmente, na esquina da rua Milton Bandeira com a travessa Tancredo Neves.
Também, não tem nenhum embasa-mento a afirmação das autoridades de que a arrecadação do Estacionamento Rotativo caiu à metade mesmo depois da duplicação da área de cobrança, devido a crise econômica. Não será por ineficiência da fiscalização ou mesmo omissão ou corrupção?
Cuide-se o prefeito para que aqueles amigos desinteressados não lhe impinjam o semáforo e, animados e jubilosos, venham oferecer-lhe pneus e asas para os navios que navegarão pelo São Bartolomeu despoluído!!!
Precatem-se os governantes para que a coisa pública não sofra prejuízos, recomendavam os censores romanos.
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