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O dólar comercial terminou o dia em forte queda nesta quinta-feira, depois de bater oito recordes seguidos. A moeda norte-americana fechou vendida a R$ 3,15 (compra a R$ 3,11) pela taxa do Banco Central. A queda é de 9,48%. A Bovespa subia 0,12% no mesmo horário.
De acordo com analistas do mercado financeiro, o principal motivo para a queda do dólar é a iminência de um acordo com o Fundo Monetário Internacional.
O FMI já deu indicações de que pretende fechar em breve um acordo com o governo brasileiro que deve valer até 2003. Os principais candidatos de oposição à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva e Ciro Gomes, também estão estudando até que ponto podem dar apoio a esse acordo.
Além disso, alguns analistas sinalizaram que o Banco Central interveio no mercado com a venda de mais do que os US$ 50 milhões que se comprometeu a vender diariamente.
Segundo o economista Francisco Petros, colunista da "Carta Capital", a pressão sobre o dólar que havia ontem está se reduzindo.
Ontem, era o dia dos vencimentos de contratos em dólar no mercado futuro na BM&F.
Dólar bateu oitavo recorde seguido ontem
O Banco Central interveio no mercado com venda de dólares, mas não conteve a forte disparada do dólar comercial ontem. A moeda norte-americana fechou vendida por R$ 3,48 (compra a R$ 3,47) pela taxa do Banco Central _alta de 5,45%, a maior desde fevereiro de 1999.
Foi o oitavo recorde seguido do valor da moeda desde o início do Plano Real. No ano, a valorização acumulada do dólar sobre o real é de 51,10% até o fechamento de ontem. Apenas em julho, a alta do dólar é de 23,4%.
O Banco Central fez duas intervenções no mercado na quarta, com venda de dólares, segundo operadores.
O Ibovespa (principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo) subiu 4,5% ontem, impulsionado por compras em dólares de ações baratas.
Análises
Em entrevista a Paulo Henrique Amorim no estúdio do UOL News na noite de ontem, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo afirmou que o projeto econômico do governo Fernando Henrique Cardoso "fracassou". Belluzzo prevê aumento da inflação _principalmente nas contas públicas_ em conseqüência da disparada do dólar. Veja a entrevista de Belluzzo.
Para o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, da Fundação Getúlio Vargas, a crise já ameaça o governo Fernando Henrique Cardoso de terminar o mandato. "A solução agora seria a transferência de responsabilidade mais cedo para o próximo governo." Veja a entrevista de Paulo Nogueira Batista Jr.
"Pânico"
O economista Delfim Netto _colunista do UOL News- afirmou que a situação é "de pânico", ao comentar a disparada do dólar na quarta-feira. "O mercado não funciona. Corrigir pelo dólar, deixar o dólar subir, só faz aparecer mais gente inadimplente e gerar mais pânico. O governo tem que tomar ação enérgica já."
"É muito difícil centralizar o câmbio, porque o FMI (Fundo Monetário Internacional) não deixa. Repetindo: o Brasil precisa desesperadamente do FMI. Essa é a hora de o presidente Fernando Henrique fazer um pronunciamento à Nação", disse Delfim.
Parte da alta está relacionada ao vencimento de contratos de dólar na Bolsa de Mercadorias & Futuros.
Mais entrevistas
O economista Alexandre Mathias, do Unibanco, acha que o Brasil deverá conseguir uma ajuda de até US$ 10 bilhões do FMI para financiar a dívida em dólar das empresas; assista
O prefeito de Vitória, Luiz Paulo Vellozo Lucas, coordenador do programa de governo de José Serra, está otimista. Quem apostar contra o Brasil vai perder, diz, sobre os especuladores; assista
O candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, afirmou a Paulo Henrique Amorim, do UOL News, sobre a disparada do dólar: "Esta crise estava escrita nas estrelas. A causa é a precariedade das contas brasileiras."
Ciro deu a declaração quando o dólar comercial estava cotado a R$ 2,61 para venda, no início da tarde. O UOL News está tentando obter declaração do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a disparada do dólar. Lula e Ciro lideram as pesquisas de intenção de voto na corrida presidencial.
Brasil negocia ajuda do FMI em Washington
Falta liquidez ao mercado de câmbio, segundo operadores. O Brasil enviou uma missão ao FMI (Fundo Monetário Internacional) nesta terça-feira. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, chefia a missão. A visita brasileira foi acertada entre o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o diretor-gerente do FMI, Horst Koehler, e tem o objetivo de adiantar as negociações para um novo empréstimo ao Brasil.
Intervenções não resolvem
As intervenções do Banco Central não vêm conseguindo frear a escalada do dólar. No início de julho, para tentar conter a disparada do câmbio, o Banco Central anunciou uma política de intervenções com a venda diária de US$ 50 milhões no mercado até o final do mês.
O BC revelou que fez na segunda e nesta terça vendas superiores a US$ 50 milhões no mercado de câmbio. O diretor de Política Monetária do BC anunciou que o banco manterá em agosto a política de intervenções, "de US$ 50 milhões ou mais" por dia, usando um total de US$ 1,835 bilhão. Leia mais.
Taxa de risco em queda
A taxa de risco do Brasil cai nesta quinta-feira. Medida pelo EMBI+ (Emerging Markets Bonds Index), índice apurado pelo banco J.P. Morgan com base nos valores dos títulos dos países emergentes, a taxa de risco do Brasil opera em queda de 6,3%, para 2.161 pontos.
Isso significa que os títulos da dívida brasileira pagam 21,61 pontos percentuais acima do valor dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Na sexta-feira passada, a taxa ultrapassou a marca de 2.000 pontos pela primeira vez na história.
O risco-país é o principal termômetro para medir a desconfiança dos investidores sobre um país. Ele cai (ou sobe) quase proporcionalmente à alta (ou queda) do valor dos títulos da dívida.
Veja abaixo o ranking dos 10 países com pior taxa de risco, segundo o EMBI+ (em pontos básicos; observação: a taxa de risco do Uruguai não é medida pelo EMBI+, mas fornecida pelo serviço uruguaio de informações financeiras República AFAP, com critérios semelhantes aos do J.P. Morgan)):
1 - ARGENTINA - 6982 2 - NIGÉRIA - 2786 3 - URUGUAI - 2744 4 - BRASIL - 2161 5 - EQUADOR - 1732 6 - VENEZUELA - 1179 7 - TURQUIA - 960 8 - COLÔMBIA - 868 9 - PERU - 822 10 -UCRÂNIA - 742
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